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Há um ano, meu filho nasceu. Desde aquela madrugada, venho aprendendo grandes lições pessoais e profissionais. Mas, como estamos no Linkedin, decidi compartilhar 10 lições profissionais que aprendi com a paternidade.

1) Crie um ambiente de aprendizagem

Observando meu filho, a primeira lição que aprendi é que nós nascemos extremamente exploradores. Nosso cérebro vem 0km e deve haver uma loucura de sinapses a cada descoberta. Descobrimos a luz; descobrimos vultos que passam na nossa frente, e só depois descobrimos que são pessoas; entendemos quem está à nossa volta; descobrimos os movimentos dos braços e das pernas. Tudo isso antes de aprender a sentar, nem sequer pensamos que é possível andar. Absolutamente tudo é novo e aprendemos tudo, pouco a pouco, e aprendemos todos os dias.

Isso me levou a perguntar: por que nós adultos não aprendemos tanto e tão rapidamente? Uma possível resposta é: porque deixamos de explorar. O cérebro torna-se preguiçoso a partir do momento em que adquirimos hábitos, mas isso é algo necessário, porque o cérebro não quer gastar energia o tempo todo.

Então, se há um hábito que devemos ter, esse hábito é aprender.

Todo dia é dia de aprender algo novo, e isso é necessário no seu ambiente de trabalho. Eu trabalho no CPTEC/INPE, em Cachoeira Paulista, e lá nós implantamos no grupo de Web um ambiente de aprendizagem. Toda semana um de nós apresenta uma tecnologia ou um conceito novo no formato de hands-on, e nesses momentos eu me sinto como o meu filho explorando o mundo ao redor.

Portanto, crie um ambiente de aprendizagem no seu trabalho e motive seus colegas a colaborarem. O resultado é fantástico!

2) É possível aprender tudo

O bebê nasce com poucas skills, só come, dorme, chora, faz xixi e cocô. E lá vão as fraldas. A lot of fraldas (rs). Porém, novas skills vão sendo absorvidas rapidamente e logo a criança sorri, emite os primeiros sons (além do choro), aprende a girar deitado (e dá um gelo na alma), pega alguns objetos (e depois quer pegar todos), e assim por diante. É fantástico!

Na fase de engatinhar, eu o incentivava colocando na cama com um objeto à frente, sempre um objeto que ele estava desejando no momento (motivação, né?!). O que ele fazia? Deitava e ia girando de costas até conseguir alcançar o objeto com um dos braços.

Eu pensava: “Não é o jeito mais rápido, mas é criativo”. E pensava ainda: “Uma hora ele vai descobrir que dá para ir de frente”. Algumas semanas à frente e lá estava ele se jogando para frente para pegar os objetos. Então, percebi que ele pode aprender tudo. Se ele pode, eu também posso, afinal eu também já fui uma pessoinha como ele.

Quando estamos aprendendo algo, sempre parece difícil. Seja um bebê aprendendo a pegar um objeto ou um adulto aprendendo física quântica. Tudo é difícil para aprender, mas, mesmo que algumas coisas cheguem perto do impossível, vale a pena tentar.

Entender isso me levou à próxima lição.

3) Tenha paciência, cada um produz no seu tempo

Podemos aprender tudo, mas cada um aprende e produz no seu tempo. No início da paternidade, eu pensava: “Mas será que é tão difícil assim pegar um objeto?!”. Foi aí que entendi que eu precisava dar tempo ao meu filho, sem resolver os problemas para ele. A correria do minha vida não tinha relação com o momento de vida dele.

Se ele queria pegar um objeto ou subir no sofá, eu passei a deixá-lo tentar, no tempo dele. Não é um trabalho fácil, é cansativo, mas o resultado é que o bebê vai ganhando autonomia.

Se queremos um ambiente colaborativo e cheio de pró-atividade, precisamos deixar que as pessoas ganhem autonomia e façam do jeito próprio. É claro que existem prazos e padrões de qualidade, e isso precisa estar transparente para quem trabalha com você. Eles só não precisam fazer no mesmo tempo que você.

4) Não se desespere diante do problema

A primeira vez em que meu filho bateu a cabeça foi uma noite em que estávamos só nós dois. Ele estava começando a engatinhar e, quando eu pisquei, a mão dele escorregou e ele acabou batendo a cabeça no pé de uma cadeira, bem na quina. Ficou um belo galo, imponente naquela testa branca.

Sinceramente, eu não esperava que a primeira batida de cabeça fosse comigo, mas um de nós dois precisava manter a calma e eu acho que isso não iria partir dele. Coloquei gelo imediatamente, mas não pense que colocar gelo na testa de um bebê foi tão simples assim.

A lição que aprendi? Independente do tamanho e da criticidade do problema, o mundo não irá acabar. Mantenha a calma para conseguir organizar as suas ações.

5) Monitore sempre os resultados

Desde o momento em que um bebê vem ao mundo, já começam as avaliações. Não basta ter vencido a corrida dos espermatozóides, ainda há o teste visual que o médico faz logo que o bebê sai da barriga. Depois, o teste do pezinho, do olhinho, e vários outros.

A cada consulta médica, as perguntas se repetiam: engordou quanto? cresceu quanto? Tudo é medido, tudo é calculado.

Foi aqui que encontrei mais uma lição: trabalhe com dados para tomar decisões. O conhecimento tácito é importante, mas dados são pragmáticos. Para isso, é essencial monitorar os resultados e analisá-los continuamente.

6) O trabalho não é a maior prioridade 

Eu sempre trabalhei muito. Durante vários anos, trabalhei no horário comercial e lecionei no período noturno. Além disso, ministrava aulas aos sábados e realizava projetos para empresas nas madrugadas.

Mas alguém passou a precisar mais de mim do que alunos e clientes. A prioridade mudou, mas não pense que foi fácil largar as recompensas de se trabalhar tanto, afinal há recompensas. Decisões importantes foram necessárias.

Fiz uma pergunta para mim mesmo: todo o meu trabalho hoje é realmente importante para os próximos anos da minha vida? Depois de uma boa reflexão, percebi que não era. Recomendo que você faça essa pergunta frequentemente a você mesmo. Pode ser que você só esteja no fluxo automático do “trabalhe enquanto eles descansam”.

7) Não procrastine nunca

Quando meu filho nasceu, eu vi meu trabalho acumular. Atividades de alunos que eu não tinha tempo para corrigir, projetos que eu comecei a atrasar. Lidar com uma nova rotina não foi fácil, e eu nem conseguia ficar acordado nas madrugadas porque eu estava exausto.

Demorei alguns meses para adequar toda a rotina, e aprendi que absolutamente nada pode ficar para amanhã. Eu não podia deixar nada para depois, porque não sabia o que me esperava na nova rotina como pai. Portanto, a solução é não procrastinar nunca.

Entender isso me levou à aprender a próxima lição.

8) Disciplina acima do cansaço

Para não procrastinar nunca, é necessário ter disciplina. Sabe aquele horário para ver um jogo de futebol ou um filme? Passou a não existir.

É inevitável sentir preguiça com a rotina da paternidade (e não quero nem dizer sobre a maternidade), mas não se pode deixar a preguiça atrapalhar a disciplina. Ferver a água para mamadeira, lavar a roupa do bebê com cuidado, passar a roupa do bebê, dar banho, e todas as atividades, que são repetidas diariamente, cansam.

No trabalho, nem sempre as atividades que fazemos são tão prazerosas e gratificantes. Em algumas situações, fazemos tarefas que exigem atenção redobrada ou grande esforço, aquelas tarefas que cansam. Para esses casos, essa lição é muito importante: disciplina acima do cansaço.

9) Durma cedo

Na vida de pai de primeira viagem, você não sabe a que horas o bebê irá acordar. Quantas vezes eu achei que o bebê dormiria duas horas seguidas e acordou depois de 15 minutos? Inúmeras vezes.

Apesar de a nova rotina ser muito difícil no início, e apesar de as tarefas acumularem, aprendi a dormir cedo. Antes eu dormia cedo, às 2h da manhã, muitas vezes. Mas eu passei a dormir cedo como os antigos (não tão cedo).

Ignorante eu era quando pensava que ficar acordado de madrugada era mais produtivo. Quando a pediatra do meu filho falou da importância do sono da noite, eu logo fiz uma reflexão e concluí: “chega de ficar acordado de madrugada”. Não é uma questão de foco, não é uma questão de dedicação, é uma questão de saúde. Recomendo conversar com um médico sobre a importância do sono.

10) A solução mais rápida e fácil atrapalha o seu desenvolvimento

Ensinar uma criança não é simples, porque, como diz a pediatra do meu filho, “a criança nasce pequena, mas nasce inteligente”. E como é inteligente! Com 10 meses, meu filho acordava de madrugada, chorando copiosamente, e identificamos que era porque queria que a minha esposa fosse pegá-lo no berço. Para a decepção dele, só eu ia atendê-lo. Eu o deitava no berço novamente e ele chorava mais, até que dormia em alguma das minhas inúmeras tentativas. E a criança é tão inteligente que aprendeu a fingir que estava dormindo quando eu me aproximava do berço. Quando eu me afastava, voltava a chorar. Treinar essa rede neural não é fácil.

Deitá-lo no berço chorando não era a solução mais fácil para mim, nem era para ele. Muito mais fácil seria pegá-lo e levá-lo para dormir conosco na cama, o choro pararia imediatamente, mas não seria essa a solução ideal para o problema. Confesso que cedi algumas vezes, quem nunca?!

Em situações de incêndio, nem sempre é possível gastar tempo buscando a melhor solução, mas isso deve ser feito logo que o fogo seja controlado ou extinguido. Lá no CPTEC/INPE, temos o “Quadro da gambiarra”, ideia ótima do Luiz Coura. Sempre que fazemos uma “gambiarra”, deixamos transparente para todos no quadro em um post-it, e só podemos tirá-lo quando solucionamos o problema definitivamente.

Conclusão

Certamente outros pais aprenderam mais lições com seus filhos. Esta minha reflexão não é uma lista definitiva, nem best practices sobre como ser um bom pai. Se você não teve tempo para ler todo o texto, imagina quando você tiver um filho.