O que se espera de uma Instituição de Ensino é que ela ensine. Afinal, é a isso que o nome “Instituição de Ensino Superior” remete. É claro que já evoluímos daquela forma de “professor fala, aluno ouve”.

Hoje, existem diversas metodologias para dar ao aluno o protagonismo no processo ensino-aprendizagem, mas as metodologias não eliminam o papel do professor.

Fato é que não temos um mapa das metodologias utilizadas pelos professores em todo o país. Quem já cursou uma faculdade sabe que existem aqueles professores que dominam o assunto, mas não sabem ensinar; e também há aqueles professores que não evoluíram do método “professor fala, aluno ouve”, e ainda dizem: “vocês vão ver no dia da prova”.

Esse cenário nos permite fazer uma pergunta: as nossas instituições de Ensino Superior estão ensinando com eficiência?

Para termos mais condições de responder a essa pergunta, vamos ao Censo da Educação Superior do INEP.

Você se surpreenderá com o que mostra esta análise do Censo para instituições públicas e privadas nas modalidades EAD e presencial, quanto à evasão e, especialmente, quanto à conclusão de curso acima do prazo mínimo necessário.

O que é o Censo da Educação Superior?

O Censo da Educação Superior é realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), registrando dados atuais e históricos sobre a situação de alunos de graduação em todo o país, além de informações das instituições de Ensino Superior e de seus docentes [1].

É importante destacar que esses dados são informados ao INEP pelas próprias instituições de Ensino Superior, e cada instituição preenche uma planilha gigante com dezenas de atributos sobre o curso, a instituição e as matrículas dos alunos.

Para informar os resultados, o INEP geralmente publica resumos técnicos [2] descrevendo estatisticamente os dados, mas eu fiquei muito interessado nos microdados publicados pelo Instituto [3].

O que é analisado neste artigo?

Eu fiz o download dos microdados do último Censo da Educação Superior (2018) e, a partir dos arquivos disponibilizados, eu construí uma base de dados mais fácil de explorar usando alguns recursos computacionais.

Como eu atuo há mais de 15 anos como docente, percebo que dois problemas são muito comuns no Ensino Superior: evasão do curso e conclusão acima do prazo mínimo necessário.

É verdade que a evasão nem sempre ocorre por dificuldades de aprendizagem, esse é apenas um dos motivos de evasão. Mas a conclusão de curso acima do prazo geralmente ocorre por dificuldades de aprendizagem, apesar de existirem outros motivos pontuais como, por exemplo, alunos que permanecem matriculados para manter um estágio em uma empresa.

Portanto, realizei a análise dos microdados do Censo da Educação Superior 2018 para responder a 2 perguntas:

  • Como está a evasão no Ensino Superior do Brasil? e
  • Os alunos do Ensino Superior do Brasil concluem o curso no tempo mínimo necessário?

A partir dessas perguntas, foi realizada a comparação entre instituições públicas e privadas, nas modalidades EAD e presencial.

Você verá que os resultados nos levarão à pergunta do título deste artigo: nossas instituições de Ensino Superior estão ensinando?

Vamos aos dados!

Evasão no Ensino Superior

Há vários motivos pelos quais um aluno encerra um curso antes de concluí-lo: dificuldade para conciliar trabalho e estudo, dificuldade de relacionamento com outros alunos, dificuldade de aprendizagem, falta de motivação para atuar na área do curso, e muitos outros motivos pessoais.

Infelizmente, o Censo do INEP não aponta os motivos de evasão de cada aluno, informando apenas duas situações de matrícula do aluno no curso que indicam evasão: cancelamento e trancamento.

Como cada instituição de ensino preenche a planilha do INEP de uma forma, há instituições que possuem dados de evasão apenas do próprio ano (2018) e outras instituições possuem dados desde a década de 70.

Portanto, para a análise da evasão, todo o conjunto de dados foi considerado, independentemente do ano de ingresso do aluno.

Conclusão do Ensino Superior acima do prazo mínimo

Assim como a evasão, a conclusão do curso acima do prazo mínimo também ocorre por vários motivos, tais como: reprovações em uma única disciplina que é pré-requisito para outras, reprovações sequenciais na mesma disciplina, trancamento devido a motivos pessoais ou devido a trabalho, entre outros.

Os microdados do Censo 2018 só permitem entender a situação de alunos concluintes no próprio ano, pois existe um atributo em que a instituição informa se o aluno é um possível “concluinte” no ano do Censo. Para analisar outros anos, é necessário usar os microdados do Censo de cada ano.

Sendo assim, para a análise de conclusão acima do prazo mínimo foram considerados apenas os alunos concluintes em 2018.

Resumo dos dados do Censo da Educação Superior 2018

  • 2.536 instituições de Ensino Superior;
    • 2.238 instituições privadas (88%);
    • 273 instituições públicas (11%);
    • 25 instituições de uma categoria específica chamada pelo INEP de Especial (1%), que não são consideradas neste artigo.
  • 38.255 cursos de graduação;
    • 2.683 na modalidade EAD em instituições privadas (7%);
    • 24.792 na modalidade presencial em instituições privadas (65%);
    • 489 na modalidade EAD em instituições públicas (1,2%);
    • 9.996 na modalidade presencial em instituições públicas (26%).
  • 12.043.992 alunos registrados no Censo 2018;
    • 3.004.485 em cursos EAD de instituições privadas (25%);
    • 6.422.925 em cursos presenciais de instituições privadas (53%);
    • 251.232 em cursos EAD de instituições públicas (2%);
    • 2.301.762 em cursos presenciais de instituições públicas (19%).

Ou seja, os cursos EAD correspondem a apenas 8,2% dos cursos de graduação no Brasil. Já em relação ao número de alunos, 27% cursam a distância.

Destaca-se entre os números a relevância dos cursos de instituições privadas. 72% dos cursos de graduação no Brasil são de instituições privadas, abrangendo 78% dos alunos.

Dados sobre Evasão no Ensino Superior

A Figura 1 mostra que a evasão em instituições privadas é significativamente maior que em instituições públicas.

Figura 1 – Porcentagem de alunos de instituições públicas e privadas que se evadiram do curso.

Na Figura 2, é possível observar que a evasão na Educação a Distância é maior que a evasão na modalidade presencial.

Figura 2 – Porcentagem de alunos que se evadiram do curso nas modalidades EAD e Presencial.

A Figura 3 mostra que, tanto em instituições públicas quanto privadas, os alunos da modalidade EAD se evadem do curso mais do que alunos da modalidade presencial.

Figura 3 – Porcentagem de alunos que se evadiram dos cursos de Ensino Superior por categoria administrativa (Pública e Privada) da instituição e modalidade do curso (EAD e Presencial)

Apesar de os índices de evasão serem altos ainda, é possível observar os microdados para entender a evasão no decorrer do tempo.

A Figura 4 mostra que há uma redução da porcentagem de alunos evadidos entre 2006 e 2018.

Figura 4 – Porcentagem de evasão em instituições privadas na modalidade EAD por ano de ingresso dos alunos.

Na Figura 5, observa-se a significativa redução da evasão na modalidade presencial em instituições privadas entre 2006 e 2018.

Figura 5 – Porcentagem de evasão em instituições privadas na modalidade Presencial por ano de ingresso dos alunos.

O mesmo cenário é observado nas instituições públicas. A Figura 6 mostra os dados de evasão na modalidade EAD. É notória a redução de 64,41%, em 2006, para 19,66%, em 2019.

Figura 6 – Porcentagem de evasão em instituições públicas na modalidade EAD por ano de ingresso dos alunos.

Na modalidade presencial, a redução da evasão é bem significativa, talvez porque entrar em uma instituição pública de Ensino Superior tornou-se muito mais difícil com o passar dos anos, o que leva os alunos a não se evadirem do curso.

Figura 7 – Porcentagem de evasão em instituições públicas na modalidade Presencial por ano de ingresso dos alunos.

Dados sobre Conclusão acima do prazo no Ensino Superior

Enquanto as instituições privadas apresentam maior taxa de evasão em relação às públicas, o cenário é inverso quanto à conclusão de curso acima do prazo.

A Figura 8 mostra que a porcentagem de alunos que concluem o curso acima do prazo em instituições públicas é, aproximadamente, o dobro da porcentagem em instituições privadas.

Figura 8 – Taxa de concluintes acima do prazo em 2018 por categoria administrativa (Pública e Privada).

Na Figura 9, a comparação é feita quanto à modalidade de ensino: EAD e Presencial. Observa-se que, na modalidade presencial, os alunos encontram mais barreiras que impedem a conclusão do curso dentro do prazo mínimo necessário.

Figura 9 – Taxa de concluintes acima do prazo em 2018 por modalidade de ensino (EAD e Presencial).

A Figura 10 mostra que a modalidade EAD em instituições privadas é a que mais permite que os alunos se formem dentro do prazo mínimo do curso.

Figura 10 – Taxa de concluintes acima do prazo em 2018 por modalidade de ensino (EAD e Presencial) e por categoria administrativa (Pública e Privada).

Considerações finais

Os dados geram preocupação. Temos muitos alunos (repito: muitos alunos) que ingressam no Ensino Superior e não o concluem com êxito: alunos que se evadem ou alunos que concluem o curso acima do prazo mínimo necessário.

40,34% dos alunos brasileiros concluem o curso acima do prazo mínimo necessário, e 28,93% dos alunos se evadem do curso. É muita gente!

O que leva o Brasil a apresentar esses resultados ruins? Vou levantar algumas hipóteses que precisam ser investigadas:

  • Qualidade ruim do ensino nas etapas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio;
  • Má formação de docentes do Ensino Superior;
  • Necessidade de maior acompanhamento dos alunos na modalidade EAD;
  • Falta de orientação sistemática para a escolha do curso no Ensino Superior; e
  • Baixo número de instituições públicas (28%), o que leva os alunos às instituições particulares e, muitas vezes, à necessidade de trabalhar para pagar a faculdade.

Infelizmente, há professores que se orgulham de altos índices de reprovação em suas disciplinas. Na minha opinião, puro preciosismo.

Há também professores de Ensino Superior que se tornaram professores por necessidade, porque o que queriam mesmo era a carreira de pesquisa nas universidades. Então, são pesquisadores que dão aula por falta de opção, afinal a carreira exige Ensino, Pesquisa e Extensão.

Quero acreditar que esses professores são a minoria e que tem muito professor profissional buscando melhorar a qualidade de ensino para que seja possível melhorar o processo de ensino-aprendizagem.

Felizmente, eu trabalho em uma instituição de ensino que se preocupa com os alunos e com o processo todo, desde o pré-vestibular. Tenho orgulho de trabalhar na FATEC Guaratinguetá e ver meus colegas professores e coordenadores trabalhando para dar a oportunidade de Educação Superior de qualidade para as pessoas da nossa região.

Respondendo à pergunta inicial: nossas instituições de Ensino Superior estão ensinando? Muitas estão, mas temos, aproximadamente, 64% de alunos nas instituições públicas que não conseguem concluir o curso no prazo mínimo.

Existem muitos outros dados que observei (e ainda existem outros a observar) dentro do universo dos microdados do Censo da Educação Superior do INEP.

Há muitas perguntas cujas respostas estão nesses dados:

  • A evasão e a taxa de concluintes acima do prazo são menores em cursos em que os professores possuem formação de professor? Cursos de licenciatura e pedagogia, por exemplo?
  • Os professores estão se dedicando mais à pesquisa do que ao ensino?
  • A infraestrutura das instituições interfere significativamente na qualidade do ensino?

Se você tem alguma pergunta sobre esses dados ou a curiosidade de explorá-los, fale comigo. Podemos colaborar nisso.

Eu ainda realizarei a análise de todos os anos do Censo e pretendo analisar também os dados da Educação Básica. Espero publicar os resultados brevemente.

Se você leu este texto e procura uma solução para a sua instituição, fale comigo. A empresa FATECOINS tem uma solução de engajamento para os seus alunos, o game FATECOINS, que fomenta o empreendedorismo e a inovação em instituições de ensino e ainda gera dinheiro e conecta mentores para os projetos dos alunos.

Referências

[1] INEP. Censo da Educação Superior. 2015. http://portal.inep.gov.br/censo-da-educacao-superior.

[2] INEP. Resumos Técnicos INEP. 2019. http://portal.inep.gov.br/web/guest/resumos-tecnicos1

[3] INEP. Microdados do Censo da Educação Superior. 2019. http://portal.inep.gov.br/web/guest/microdados.